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  • Foto do escritorLuciana Garbini De Nadal

FUNÇÃO DE CONTATO: O PRAZER DE SE SENTIR VIVO!

RESUMO

O segmento ocular tem uma função de extrema importância: de corporificação da energia, ou seja, é o local onde esta se liga à matéria. Sem energia, não há sensação e, portanto, não há consciência. Por esta razão, este é o primeiro segmento a ser trabalhado em uma terapia. O bloqueio ocular causa anestesia e falta de vitalidade. Conforme trabalhamos este segmento em um indivíduo amadurecendo essa função, este passa a fazer contato com suas sensações, ampliando a consciência e aumentado o prazer de estar vivo.


Palavras-chave: Consciência. Corporificação de energia. Função de contato. Segmento ocular. Prazer.

O segmento ocular é composto de toda a metade superior da cabeça, desde a nuca até o nariz, incluindo todas a estruturas internas, mais a pele. Seu principal componente é o encéfalo. Daí vem a importância deste segmento, pois o cérebro é responsável pela elaboração de nossas funções psíquicas e pelo comando das funções corporais, além de ser responsável indiretamente pelo comando dos fluxos orgonóticos e pela configuração do campo energético. Assim, o cérebro é o elo de ligação entre o psiquismo e o resto do corpo. (TROTTA, 1998)

Trotta (1998) questiona porque Reich nomeou este segmento de “ocular” no lugar de “cerebral”, já que o cérebro é seu principal componente. Chega a conclusão de que isso se deveu provavelmente ao fato de os olhos serem acessível diretamente, enquanto que o cérebro não. Além disso, o homem é um animal predominantemente ótico: “Os circuitos neuronais relacionados com a visão apresentam amplas e importantes conexões com várias regiões dos dois hemisférios cerebrais, conectando-as funcionalmente” (Trotta, 1998, p. 39)

Navarro (1995) nomeou o bloqueio ocular de “núcleo psicótico”, pois este causa uma cisão entre percepção e sensação: a pessoa tem condições de dar-se conta da própria sensorialidade, mas não a percebe – vê, mas não olha; ouve o som das palavras, mas não é capaz de percebê-las como mensagem; cheira, mas não sente. Isso faz com que ocorram distúrbios de interpretação: a pessoa distorce a realidade como se estivesse “cega”, como dizemos popularmente. “A perturbação do estado de consciência é conseqüência da disfunção do primeiro nível. A consciência é, com efeito, a autopercepção e, para chegar a ela, é necessário que os estímulos sensoriais provoquem o sentido de excitação” (NAVARRO, 1995, p. 32).

Para Reich (2004), a consciência é uma função da autopercepção em geral e vice-versa. Mas a consciência aparece depois da autopercepção, como uma função mais elevada. Ambas as funções estão diretamente relacionadas a certos estados bioenergéticos do organismo em termos quantitativos e qualitativos.

Uma queixa comum de pacientes com considerável núcleo psicótico é de não se sentir existente, como se não estivessem aterrados, pois falta contato com o corpo, o que afeta, conseqüentemente, a qualidade de estar presente; costumam relatar também uma sensação de fragmentação – quando relatam isso, é porque já houve uma melhora: já se percebem. Ao amadurecer o segmento ocular, o paciente relata uma sensação muito boa de unidade corporal, de se sentir íntegro e com mais energia. Percebi avanços em uma paciente anoréxica quando ela me perguntou se eu achava que ela estava muito magra. O fato de ela questionar, já demonstra melhorias na percepção, pois na anorexia há grande distorção da realidade decorrente de forte núcleo psicótico.

O núcleo psicótico surge no período entre a concepção e os dez primeiros dias de vida como decorrência de um trauma ou uma carência de maternagem. Seu grau varia em cada sujeito, sendo seu extremo a condição psicótica; dificilmente encontramos alguém sem um mínimo de bloqueio ocular, ainda mais na atual sociedade em que vivemos, cada vez mais virtual e artificial (NAVARRO, 1995).

Vida para Reich é a pulsação conjunta de energia e matéria, e para estas pulsarem juntas, precisam estar ligadas. Essa ligação ocorre no segmento ocular. É através deste segmento que corporificamos energia e processamos informação. Stolkiner (2008) divide este segmentos em dois níveis: o primeiro está relacionado à visão - inclui cérebro e olhos – e traz diretamente a informação para dentro do cérebro; o segundo está relacionado ao ar e a produção e percepção do som, trazendo também informação através do olfato e da audição, mas também trazendo energia através da respiração.

A cabeça é o principal pólo de entrada de energia, enquanto que a pélvis é o principal pólo de saída. Entre cabeça e pélvis se estabelece o fluxo de energia, passando pelo peito, que é um centro de pulsação. Por ter relação com o mundo exterior, dizemos que o segmento ocular tem identidade funcional com a periferia do campo energético (STOLKINER, 2008).

Reich percebeu que há duas formas de traição à vida: a mística e a materialista. Na primeira, a energia funciona na pessoa de forma que grande parte fica desligada da matéria, funcionando como energia livre. Esta é uma forma de defesa – a dissociação –, pois desta forma, a pessoa não faz contato com emoções dolorosas. Para trabalhar essa defesa, pedimos à pessoa que faça foco com o olhar, a fim de corporificar energia. Na traição materialista, a energia fica grande parte ligada a matéria, comprometendo a pulsação. Assim, o organismo funciona como um objeto, perdendo movimento e, portanto, a vitalidade. Pessoas neste estado tem dificuldade de se entregar à vida, como se tudo fosse muito pesado e denso. Com essa pessoa, trabalhamos o giro ocular que cria uma dissolução do limite, levando energia para a periferia do corpo (STOLKINER, 2008).

A capacidade de fixar o olhar em um objeto é uma das primeiras funções que precisam ser amadurecidas no paciente, pois é o que ocorre logo que nascemos: através do olhar, nos espelhamos em nossa mãe e, aos poucos, vamos nos percebendo indivíduos separados, conquistando nossa independência. O olhar fixo é, portanto, uma das primeiras funções a ser amadurecidas em um paciente (NAVARRO, 1995).

Um exercício importante a ser trabalhado em terapia individual e que pode ser aplicado em grupo é de pedir simplesmente para o paciente olhar nos olhos de outra pessoa em silêncio – no caso da terapia individual pode ser os olhos do terapeuta. Quase todas as pessoas sentem desconfortos imediatos ao receber a instrução: vem uma ansiedade, uma vontade de desviar o olhar, um piscar excessivo. Estas são formas de defesa: cortando o contato, se evita conteúdos emocionais. Outra forma de defesa é não ficar presente no corpo. Para isso, a pessoa deixa o olhar difuso. Então quando pedimos para ela focar o olhar, ela volta ao presente, que é o contato com o corpo, com as sensações. Inicialmente costumam vir sensações desconfortáveis, mas conforme o paciente vai se conscientizando e integrando os conteúdos emocionais que vem à tona, a sensação é de alívio. Esse exercício trabalha a relação com o outro, ajudando o paciente a tomar consciência de seus conteúdos transferenciais: as barreiras que o impedem de ter um contato real com o outro. Estas barreiras podem ser: medo de ser machucado, de ser julgado, de ser rejeitado, dentre outras crenças negativas limitantes vindas do passado, mas que interferem no presente do paciente como carga energética e emocional fazendo com que este inconscientemente aja de forma que as torne realidade.

No mundo em que vivemos cheio de informações e estímulos, estar na presença de outra pessoa em silêncio é uma capacidade rara. O contato tem uma função de pulsação para dentro e para fora: sinto o outro, então sinto a mim mesmo (STOLKINER, 2008). Muitos fogem disso para não ter que entrar em contato com seus próprios sentimentos, com um passado doloroso que o sistema de defesa do ego luta para deixar inconsciente. É a carga emocional do passado que interfere no presente, criando muros entre as pessoas, impedindo um contato real com o outro, bloqueando o coração. Esta é a mesma carga que projetamos no futuro como ansiedade ou como ilusão de compensação de nossas faltas. Estar consciente dessa carga nos permite estar realmente presente no nosso corpo, nas nossas sensações e na realidade que geralmente é mais amena do que nossos fantasmas imaginários querem nos fazer crer. Esta carga emocional está sempre acompanhada de crenças negativas autorrealizadoras.

As pessoas estão tão automatizadas, que nem os casais param para sentir um ao outro. Hoje em dia, há muita informação sobre sexo: dicas do que fazer, de como fazer, posturas, performances, mas muitas pessoas estão anestesiadas.

Um simples exercício de pedir para olhar nos olhos de outra pessoa em silêncio já mexe muito. Quando damos instrução em um grupo para as pessoas se tocarem, há uma grande excitação, de animação ou de medo, como se fosse necessário autorização para isso ou como se fosse algo muito estranho.

Em um mundo cada vez mais virtual, é de extrema importância trabalhar o contato real consigo e com os outros. São muitas informações, muita pressa, muitos pseudocontatos, muitos amigos virtuais e pouca intimidade; muita imagem e pouca profundidade. Quando anestesiamos sensações desagradáveis, também anestesiamos o prazer, a alegria, o amor. Precisamos resgatar esse contato olho no olho, pele com pele, coração com coração, nos tornando mais vivos!


Referências


NAVARRO, F. A Somatopsicodinâmica: Sistemática reichiana da patologia e da clínica médica. São Paulo: Summus, 1995.

NAVARRO, F. Caracterologia Pós-reichiana. São Paulo: Summus, 1995.

REICH, W. Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

STOLKINER, J. Abrindo-se aos mistérios do corpo. Porto Alegre: Alcance, 2008.

TROTTA, E. E. Bases neurofisiológicas dos procedimentos clínicos de estimulação ocular com luzes coloridas. In: integrantes da SWR/RS (Org.). Revista da Sociedade Wilhelm Reich/RS. Porto Alegre: Sociedade Wilhelm Reich/RS, vol. 2, n. 2, p. 37-49, 1998.


Artigo criado como base para a vivência Função de contato: o prazer de se sentir vivo! apresentada no 23º Congresso Brasileiro de Psicoterapias Corporais do Centro Reichiano / PR e disponível nos Anais do congresso no site do Centro Reichiano no seguinte endereço:


AUTOR e APRESENTADOR


Luciana Garbini De Nadal / Porto Alegre / RS / Brasil

Psicóloga formada pela UFRGS (CRP 07/16819), Especialista em Psicologia Corporal – Centro Reichiano / PR, Terapeuta de EMDR, terapeuta de Brainspotting avançado, Formação em Orgonomia Aberta (Stolkiner). Massagens Bioenergéticas (Ralph Viana). Meditações Ativas.




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