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Foto do escritorLuciana Garbini De Nadal

A Dança do Caráter


RESUMO

Reich descobriu que tudo o que é vivo está em constante movimento. Os traumas e frustrações que as pessoas vivem ao longo de seu desenvolvimento emocional causam bloqueios no fluxo de energia do organismo, limitando a espontaneidade de movimentos corporais. Este artigo tem objetivo de esclarecer como ocorre o encouraçamento e como através do movimento podemos liberar a energia do nosso corpo, tendo mais vitalidade, amadurecendo o caráter e chegando à potência orgástica.

Palavras-chave: Caráter. Desenvolvimento. Energia. Movimento. Potência Orgástica.


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A psicologia corporal começou com Wilhelm Reich, inicialmente psicanalista, aluno de Freud. Reich (1975) percebeu, porém, que não teria como haver uma cura verdadeira excluindo o corpo do processo terapêutico. Era necessário que a energia represada dos conteúdos inconscientes fosse descarregada no corpo também, não apenas trazida à consciência. Ele olhou para o desenvolvimento emocional da mesma forma: observando os processos energéticos na conexão corpo-mente. Os problemas emocionais, de relacionamento, de trabalho, enfim, as dificuldades que fazem as pessoas buscarem terapia têm suas origens na infância. É como se uma parte delas estivesse presa a alguma etapa do desenvolvimento. A terapia reichiana busca através de diversas técnicas o amadurecimento desse caráter, revivendo a situação de infância onde ficamos presos.

Reich dividiu o corpo em sete segmentos onde a energia poderia estar bloqueada, são eles: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico. Nosso desenvolvimento segue a direção céfalo-caudal, ou seja do segmento ocular até a sexualidade adulta, relativa ao segmento pélvico. Volpi e Volpi (2002) organizaram e nomearam as etapas do desenvolvimento, especificando quais segmentos são bloqueados em cada um deles, conforme descrição abaixo.

Etapas do desenvolvimento

A primeira etapa é denominada sustentação – inicia na fecundação, declinando a partir do nascimento. Neste período, o útero é o ambiente do bebê, determinando o nível de energia deste. A energia está predominantemente localizada nos órgãos de contato: olhos, pele, ouvidos, nariz. Sintomas de bloqueio nesta etapa são: medo, pânico, falta de energia, confusão e dificuldade de contato consigo e com os outros.

Logo após o nascimento inicia a etapa de incorporação que se estende até o desmame, por volta dos 9 meses. O bebê passa do útero ao seio da mãe, construindo na relação com esta a noção de eu e não-eu. É a etapa em que energia se localiza na boca e compreende as experiências de prazer/desprazer, satisfação/frustração. Bloqueios nesta etapa podem determinar características depressivas, dependentes, agressivas, ansiosas e transtornos alimentares.

A próxima fase de desenvolvimento após o desmame é a de produção. Nesta, a criança está aprendendo a controlar os esfíncteres, assim como aprende a controlar suas emoções. Ela está conquistando cada vez mais sua autonomia, aprendendo a se sociabilizar, desenvolvendo a consciência de si mesmo. Nesta fase os bloqueios envolvem couraças nos segmentos cervical, diafragmático e abdominal e caracterizam pessoas com traços obsessivos compulsivos e/ou masoquistas.

A partir de 4 anos de idade a criança passa para a etapa de identificação. É o período de descoberta dos genitais, de curiosidade sobre sexualidade e de exploração do corpo com a masturbação. A criança aprende o papel social de cada sexo. As couraças se localizam nos segmentos cervical, torácico e pélvico. Os traços de caráter de pessoas com bloqueio nesta etapa são narcisistas e histéricos.

Dos 5 anos de vida até a puberdade é o período de formação do caráter em que todas as experiências passadas desde a concepção são organizadas em um caráter especifico. A criança se identifica com o pai do mesmo sexo para aos poucos ir descobrindo sua própria identidade.

Se a criança passasse por todas estas etapas de forma saudável, amadurecendo em cada uma delas, ela desenvolveria o chamado por Reich de Caráter Genital, aquele que se entrega ao fluxo de energia sem restrições, autorregulado. Porém, na sociedade neurótica em que vivemos, todos desenvolvemos caráter neurótico, aquele imaturo emocionalmente, cuja energia se encontra desregulada e é incapaz de se entregar às correntes vegetativas.

Reich descobriu que a vida é pulsação. A couraça é a tentativa fracassada de deter o movimento, afinal a natureza não é estática. O neurótico está o tempo todo tratando de criar um absoluto imóvel dentro e fora de si (Stolkiner, 2008). E é essa tentativa que traz o sofrimento, pois não conseguimos nos entregar aos nossos sentimentos, o que Reich chamou de angústia orgástica. A pessoa que apresenta a angústia orgástica é classificada por Reich de caráter neurótico, aquele imaturo emocionalmente, preso em uma ou mais fases de desenvolvimento. No momento em que aceitamos e nos entregamos às correntes vegetativas, desenvolvemos o que Reich chamou de potência orgástica: a capacidade de se entregar totalmente ao fluxo da vida, sem restrições, indo em direção ao caráter genital, aquele maduro emocionalmente e autorregulado.

A Psicologia Corporal busca a liberação do fluxo de energia do corpo, resgatando a espontaneidade natural do ser humano. Os movimentos passam a ser mais livres, liberando o indivíduo da sensação de aprisionamento conferida pela neurose. Assim, é possível fluir pela vida, aceitando os ciclos pelos quais passamos, as pequenas mortes e renascimentos do nosso dia a dia e usufruindo a consequente satisfação advinda desta aceitação.


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Referências

REICH, W. A função do orgasmo. São Paulo: Círculo do Livro, 1975

STOLKINER, J. Abrindo-se aos mistérios do corpo. Porto Alegre, Ed. Alcance, 2008

VOLPI, J. H.; Volpi, S. M. Crescer é uma aventura! Desenvolvimento emocional segundo a psicologia corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2002

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Artigo criado como base para a vivência A Dança do Caráter: da pré-genitalidade ao caráter maduro - potência orgástica apresentada no 17º Congresso Brasileiro de Psicoterapias Corporais do Centro Reichiano / PR e disponível nos Anais do congresso no site do Centro Reichiano no seguinte endereço:

AUTORES

Alessandra da Silva Eisenreich

Antonio Roberto de Sousa Henriques

Luciana Garbini De Nadal




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